Como as Mudanças Climáticas têm Impactado o Mercado de Seguros
São Paulo, 09 de maio de 2025
As mudanças climáticas têm causado um impacto significativo no setor de seguros, com um aumento alarmante de 86.700 para 240.400 sinistros residenciais registrados entre maio de 2023 e 2024 no Brasil.
Atualmente, apenas 10% da população brasileira possui algum tipo de seguro, enquanto o setor representa 3,6% do PIB nacional - um número significativamente menor quando comparado aos 12% nos Estados Unidos e 11% no Reino Unido. Este cenário tem se tornado ainda mais desafiador devido aos eventos climáticos extremos, como evidenciado pelos R$ 6 bilhões pagos em indenizações relacionadas a desastres climáticos no Rio Grande do Sul em 2023.
Este artigo explora como as mudanças climáticas estão transformando o mercado de seguros, apresentando as novas tendências, desafios e soluções que estão surgindo para proteger segurados e seguradoras neste cenário em constante mudança.
Consequências das Mudanças Climáticas para Segurados
Os impactos das mudanças climáticas no setor de seguros têm gerado consequências diretas para os segurados. Consequentemente, as seguradoras aumentaram significativamente os prêmios, chegando a reajustes de até 50% em algumas regiões.
No setor agrícola, os prejuízos são ainda mais evidentes. O custo do Proagro subiu de R$ 1.7 bilhões em 2021 para aproximadamente R$ 10 bilhões em 2023. Além disso, as seguradoras enfrentam dificuldades para precificar adequadamente os riscos, uma vez que eventos climáticos extremos têm se tornado mais frequentes e intensos.
No entanto, o cenário mais preocupante está na disponibilidade dos seguros. Em diversas regiões, as seguradoras têm optado por deixar completamente o mercado ou restringir severamente suas coberturas. Dessa forma, muitas áreas estão se tornando "inseguráveis", especialmente aquelas mais vulneráveis a eventos climáticos extremos.
Os principais impactos para os segurados incluem:
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Aumento nas taxas de seguros patrimoniais na América Latina, especialmente no Brasil
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Restrições nas coberturas para eventos como inundações
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Dificuldade de acesso a seguros em áreas de alto risco
Portanto, as mudanças climáticas não apenas elevam os custos dos seguros, mas também ameaçam a própria disponibilidade de proteção financeira. Em 2023, as perdas seguradas na América Latina alcançaram US$ 5.1 bilhões, enquanto as perdas econômicas totais chegaram a US$ 16 bilhões, evidenciando uma significativa lacuna de proteção no mercado.
Novos Produtos e Coberturas no Mercado
Em resposta aos desafios climáticos, o mercado de seguros brasileiro tem desenvolvido produtos inovadores. O Seguro Social de Catástrofe surge como uma das principais novidades, oferecendo indenização emergencial de R$ 15.000 por moradia, paga rapidamente após a decretação do estado de emergência.
Uma das inovações mais significativas é o seguro paramétrico, que se baseia em índices predefinidos para acionar pagamentos. Este modelo utiliza dados meteorológicos precisos e oferece indenizações sem necessidade de vistorias presenciais.
O mercado também disponibiliza coberturas específicas para:
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Vendaval e granizo
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Alagamento e desmoronamento
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Proteção contra danos elétricos e raios
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Prejuízos causados por ciclones e tornados
No entanto, o cenário atual ainda apresenta uma lacuna significativa de proteção, com apenas 30% das perdas econômicas cobertas por seguros. Para reduzir esta diferença, as seguradoras estão implementando duas novas ferramentas: um mapa de calor do território nacional que detalha riscos climáticos e um sistema que identifica cenários de perdas decorrentes de acidentes naturais.
Portanto, o setor tem buscado soluções mais abrangentes, incluindo a proposta de criação de seguro contra rompimento de barragens e derramamentos, com garantias específicas para descomissionamento de barragens industriais e de mineração.
Como se Proteger dos Impactos das Mudanças Climáticas
Para enfrentar os desafios das mudanças climáticas, o setor segurador desenvolveu ferramentas sofisticadas de avaliação de riscos. O Mapa de Calor, primeira ferramenta do gênero no Brasil, apresenta uma visão macro da exposição geográfica a 11 riscos climáticos físicos, considerando cenários de aumento de 2°C e 4°C até 2050.
Primeiramente, as seguradoras recomendam medidas preventivas essenciais:
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Instalação de sistemas de drenagem
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Reforço estrutural contra tempestades
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Manutenção adequada de telhados e calhas
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Desenvolvimento de planos de emergência
Além disso, o setor financeiro tem participado ativamente da agenda socioambiental desde 2008, incluindo a taxonomia verde desde 2015. As seguradoras podem utilizar modelagens específicas para extrair informações de variáveis climáticas e estimar perdas potenciais.
No entanto, apenas 5% das perdas econômicas causadas por desastres naturais no Brasil contam com coberturas de seguros. Portanto, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) editou a Circular n° 666/22 para regular o mercado com conceitos de sustentabilidade e riscos climáticos.
O desenvolvimento de soluções eficazes requer uma abordagem em camadas, incluindo um plano coordenado para ação antecipada, processo de tomada de decisão baseado em evidências e financiamento pré-estabelecido. As seguradoras também podem auxiliar na identificação de áreas geográficas com maior exposição a riscos, permitindo a priorização de estratégias de gestão mais eficazes.
Conclusão
Mudanças climáticas representam um desafio sem precedentes para o mercado de seguros brasileiro. Certamente, o aumento expressivo nos sinistros e as perdas bilionárias evidenciam a necessidade de adaptação do setor.
Embora apenas 10% da população brasileira possua seguros atualmente, novas soluções começam a surgir. Produtos inovadores como o Seguro Social de Catástrofe e seguros paramétricos demonstram a capacidade do mercado de se reinventar diante dos desafios climáticos.
As seguradoras, por sua vez, desenvolvem ferramentas cada vez mais sofisticadas para avaliação de riscos. Mapas de calor e sistemas de identificação de cenários de perdas permitem decisões mais precisas, beneficiando tanto as empresas quanto os segurados.
Portanto, a proteção contra eventos climáticos extremos exige ação imediata. Proprietários devem considerar medidas preventivas essenciais, enquanto seguradoras precisam continuar desenvolvendo produtos acessíveis e abrangentes. Dessa forma, o setor poderá expandir sua cobertura atual e oferecer maior segurança financeira à população brasileira diante das mudanças climáticas.
Referências
[2] - https://www.nexojornal.com.br/expresso/2024/03/27/mudancas-climaticas-clausula-seguro
[3] - https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/infra/eventos-climaticos-extremos-e-a-atracao-do-mercado-segurador
[4] - https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2025/01/17/como-as-seguradoras-estao-lidando-com-os-estragos-causados-pela-mudanca-climatica.ghtml
[5] - https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/seguros/noticia/2024/10/28/a-conta-do-clima-chegou-e-impacta-o-mercado-de-seguros.ghtml
[6] - https://revistaapolice.com.br/2024/01/as-catastrofes-climaticas-exigem-uma-nova-visao-do-mercado-de-seguros/
[7] - https://www.camara.leg.br/noticias/1053981-seguradoras-propoem-novas-coberturas-diante-de-catastrofes-climaticas/
[8] - https://www.wtwco.com/pt-br/insights/2024/08/rapidez-e-transparencia-solucoes-parametricas-contra-riscos-climaticos
[9] - https://www.fundacionmapfre.com.br/noticias/seguros/desastres-naturais-e-a-protecao-dos-seguros/
[10] - https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painelsa/2024/01/seguradoras-usarao-risco-climatico-em-calculo-de-apolice.shtml
[11] - https://cnseg.org.br/noticias/setor-segurador-e-a-gestao-de-riscos-climaticos-inovacoes-e-estrategias-para-uma-economia-sustentavel
[12] - https://assertiv.com.br/crise-climatica-e-seguros-protegendo-seu-futuro/
[13] - https://cnseg.org.br/noticias/setores-segurador-financeiro-e-produtivo-tem-compromissos-para-aumentar-resiliencia-com-crise-climatica
[14] - https://www.climatepolicyinitiative.org/pt-br/publication/desafios-do-seguro-rural-no-contexto-das-mudancas-climaticas-o-caso-da-soja/
[15] - https://cnseg.org.br/noticias/setor-segurador-apresenta-propostas-para-desastres-naturais-em-audiencia-publica-na-camara-dos-deputados
[16] - https://fgviisr.fgv.br/sites/default/files/2022-12/Relatorio%20FGV%20 %20Seguro%20aplicado%20as%20Mudanc%CC%A7as%20Clima%CC%81ticas%20rev2.pdf