Alta nos Preços e a Falta de Educação Financeira são Entraves para o Acesso aos Seguros
São Paulo, 04 de agosto de 2025
Apenas 20% da população brasileira possui algum tipo de cobertura de seguro, uma realidade que reflete o alto preço destes serviços no país. Esta baixa penetração do mercado segurador brasileiro está diretamente relacionada a dois fatores principais: o custo elevado dos produtos e a falta de educação financeira da população.
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No entanto, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) reconhece estes desafios e está trabalhando ativamente para mudá-los. Além disso, através do Grupo de Trabalho "Política Nacional de Acesso ao Seguro", o órgão regulador busca implementar melhorias e estratégias para tornar os seguros mais acessíveis e compreensíveis para todos os brasileiros.
O Impacto do Alto Preço dos Seguros no Orçamento Familiar
Os preços dos seguros no Brasil têm registrado aumentos expressivos nos últimos anos, afetando significativamente o orçamento das famílias brasileiras. Apenas no setor automotivo, as apólices sofreram altas de quase 30% entre o ano passado e os primeiros meses deste ano. Este fenômeno está diretamente relacionado ao aumento no valor dos veículos na Tabela Fipe, tanto para carros novos quanto usados, devido à escassez de peças enfrentada pelas montadoras como consequência da pandemia.
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Além disso, o Brasil figura como um dos países com seguro de automóvel mais caro do mundo, ficando atrás apenas de Hong Kong. Esta realidade explica, em parte, por que apenas 30% da frota de veículos no território brasileiro possui algum tipo de cobertura securitária.
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No campo da saúde, a situação é igualmente preocupante. Os gastos com planos de saúde representam 58% do gasto total das famílias com serviços de saúde. O gasto médio mensal com planos empresariais é de R$ 186,72, enquanto para planos individuais chega a R$ 254,66. Com o aumento da idade, estes valores passam a consumir parcelas ainda maiores da renda familiar, oscilando entre 3,1% para planos empresariais de menores de 19 anos e 10,6% para planos individuais no grupo com 79 anos ou mais.
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Consequentemente, muitos brasileiros têm se visto obrigados a tomar decisões difíceis frente ao aumento dos preços. No setor automotivo, alguns proprietários optam por não renovar suas apólices, mesmo entendendo a importância de contar com um seguro. Outros escolhem manter o seguro, porém reduzindo as coberturas ou contratando opções mais baratas, como seguros pagos de acordo com o uso do veículo ou coberturas limitadas a terceiros.
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Por outro lado, o Índice de Preços do Seguro Automóvel (IPSA) atingiu seu maior patamar em 26 meses, com elevação de 1,5% em relação ao mês anterior e encarecimento de 17,5% em comparação aos 12 meses anteriores. Este cenário é agravado pela crise dos semicondutores e pelo desarranjo do mercado de autopeças durante a pandemia, que aumentaram tanto o custo quanto o tempo de reparo dos veículos.
A Lacuna na Educação Financeira dos Brasileiros
A deficiência na educação financeira representa um desafio significativo para o mercado segurador brasileiro. Estudos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelam que o índice de respostas corretas sobre conceitos financeiros obtidas no Brasil foi de apenas 58%, evidenciando a dificuldade dos brasileiros em compreender temas financeiros fundamentais.
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Essa lacuna na formação financeira gera consequências preocupantes. Pesquisas indicam que somente 30% dos brasileiros são poupadores ativos, o que explica a vulnerabilidade financeira das famílias durante períodos de crise. Além disso, a falta de conhecimento sobre gestão financeira contribui diretamente para o endividamento e limita oportunidades, resultando em estresse e impactando negativamente o estilo de vida.
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No contexto dos seguros, o cenário é ainda mais desafiador. Apenas 39% dos brasileiros possuem algum tipo de cobertura securitária, sendo 44% mulheres e 56% homens. A distribuição por classe social mostra 10% da classe A, 56% da B, 30% da C e 4% da DE. Contudo, 49% das pessoas afirmam não ter e nem pretender ter nenhum tipo de seguro.
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O alto preço é frequentemente citado como impedimento, mas não é o único fator. Muitos brasileiros simplesmente não chegam a avaliar a contratação — 39% nunca consideraram essa possibilidade, principalmente por acreditarem que não teriam condições de arcar com os custos. Paralelamente, a desconfiança no setor segurador e o desconhecimento sobre a importância do seguro são entraves significativos.
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A questão cultural também pesa nessa equação. Existe uma crença generalizada de que "isso nunca vai acontecer comigo", levando muitos a confiarem que nada de ruim acontecerá com eles ou seus bens. Esse comportamento reflete-se no fato de que, em 2023, os brasileiros gastaram cerca de R$ 60 bilhões em sites de apostas, o que representa aproximadamente 15% dos valores pagos em seguros.
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Notavelmente, 45% e 41% dos respondentes desconhecem diversas modalidades de seguro, demonstrando como o mercado segurador brasileiro carece de informações adequadas, mas está repleto de oportunidades para crescimento mediante educação financeira.
Estratégias Práticas para Superar as Barreiras de Acesso
Para superar as barreiras ao acesso aos seguros no Brasil, existem diversas estratégias práticas que podem ser adotadas. Uma delas é contar com o apoio de um corretor de seguros, profissional especializado e legalmente habilitado para intermediar contratos entre seguradoras e consumidores. Este profissional atua como um conselheiro confiável, orientando clientes sobre as melhores opções de acordo com suas necessidades específicas e orçamento disponível.
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O corretor de seguros desempenha um papel crucial ao explicar detalhadamente os termos, condições e exclusões das apólices, garantindo que o cliente compreenda o que está adquirindo. Além disso, auxilia no processo de reivindicação de sinistros, desde a notificação até a resolução e pagamento, servindo como defensor do cliente junto à seguradora.
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Outra estratégia eficaz é utilizar plataformas de comparação de preços, que permitem aos consumidores analisar diferentes opções de seguros disponíveis no mercado. Estas ferramentas gratuitas facilitam a cotação, comparação e escolha da melhor alternativa com base em informações de qualidade. Algumas seguradoras já utilizam inteligência artificial para desenvolver comparadores que proporcionam praticidade e agilidade neste processo.
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A customização dos produtos também representa uma estratégia importante para democratizar o acesso aos seguros. "Uma das formas mais justas de trazer quem não tem acesso aos seguros é customizar os produtos, deixando-os com a cara do cliente e adequados ao seu orçamento". Esta personalização permite que pessoas com diferentes perfis financeiros encontrem proteção compatível com suas possibilidades.
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No campo da educação financeira, iniciativas governamentais têm sido implementadas para ampliar o conhecimento sobre finanças, incluindo seguros. O Ministério da Educação apresentou recentemente um programa de educação para cidadania financeira, fiscal, previdenciária e securitária nas escolas brasileiras. Paralelamente, a Semana Nacional de Educação Financeira (Semana ENEF) é realizada anualmente, com o tema de 2025 focado em "Educação Financeira para Crianças e Jovens: Preparando a Sociedade para Escolhas Conscientes".
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Ainda no aspecto financeiro, verificar a situação do CPF e o Score de Crédito antes de fazer escolhas financeiras ajuda no planejamento realista de investimentos, inclusive em seguros. Esta prática contribui para identificar oportunidades de melhorar o acesso a condições de crédito mais favoráveis.
Conclusão
Dados apresentados evidenciam que o mercado segurador brasileiro enfrenta desafios significativos. Certamente, os preços elevados das apólices, aliados à falta de educação financeira, criam barreiras consideráveis para grande parte da população brasileira.
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Portanto, mudanças estruturais são necessárias para democratizar o acesso aos seguros no país. As iniciativas da Susep, através do Grupo de Trabalho "Política Nacional de Acesso ao Seguro", representam passos importantes nessa direção. Simultaneamente, a customização de produtos e serviços, combinada com programas educacionais, oferece alternativas promissoras para ampliar a penetração do mercado segurador.
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A realidade atual demonstra que, embora existam obstáculos, também existem caminhos viáveis para superá-los. Corretores especializados, plataformas de comparação e produtos personalizados constituem ferramentas essenciais para facilitar o acesso aos seguros. Assim, brasileiros podem encontrar proteção adequada às suas necessidades e possibilidades financeiras, garantindo maior segurança para seu futuro.
Referências
[1] - https://www.fenacor.org.br/noticias/veja-razoes-para-o-aumento-de-ate-30-no-preco
[2] - https://protegeveiculo.com.br/por-que-seguro-de-carro-e-caro-no-brasil/
[3] - https://www.scielo.br/j/csp/a/GXLJW3b3RqXMFFZ56v9ZkCq/?format=pdf
[4] - https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/dispara-preco-do-seguro-de-carro-no-pais-saiba-motivos/
[5] - https://www.editoraroncarati.com.br/v2/Artigos-e-Noticias/Artigos-e-Noticias/Como-os-seguros-podem-se-tornar-ferramentas-de-educacao-financeira.html
[6] - https://revistaft.com.br/impactos-da-falta-de-educacao-financeira-em-relacao-a-qualidade-de-vida-do-brasileiro/
[7] - https://www.sincor.org.br/estudo-revela-que-41-dos-internautas-brasileiros-contratariam-um-seguro-contra-catastrofes/
[8] - https://mindminers.com/blog/mercado-segurador-e-os-brasileiros/
[9] - https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/04/11/alto-preco-falta-de-educacao-financeira-e-baixa-confianca-no-setor-sao-entraves-para-acesso-ao-seguro-diz-susep.ghtml
[10] - https://www.revistacobertura.com.br/noticias/instituicoes/cultura-do-brasileiro-influencia-no-desenvolvimento-do-setor-de-seguros/
[11] - https://tosegurado.com.br/auto/o-real-papel-do-corretor-de-seguros-no-mercado-brasileiro/
[12] - https://www.comparaonline.com.br/
[13] - https://revistaapolice.com.br/2024/07/azos-lanca-comparador-de-precos-entre-seguros/
[14] - https://insurancecorp.com.br/pt/2024/06/06/betacast-discute-como-tornar-seguros-e-assistencias-mais-acessiveis/
[15] - https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/2025/abril/programa-de-educacao-financeira-e-apresentado-pelo-mec
[16] - https://www.gov.br/susep/pt-br/central-de-conteudos/noticias/2025/abril/susep-participa-de-1o-encontro-do-programa-consciencia-e-acao-do-ministerio-da-educacao
[17] - https://spcbrasil.org.br/blog/tipos-de-investimentos