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O Impacto das Mudanças Demográficas nas Apólices de Seguros

São Paulo, 14 de abril de 2025

As mudanças demográficas globais têm apresentado transformações impressionantes: a população mundial cresceu quase 3,5 vezes entre 1900 e 2000, saltando de 1,6 bilhão para 6,1 bilhões de pessoas. De acordo com projeções da ONU, esse número deve atingir 8,2 bilhões em 2024, com perspectiva de alcançar 10,3 bilhões na década de 2080.

No Brasil, esse cenário apresenta características específicas. O IBGE projeta que a população brasileira atingirá seu ápice em 2041, com 220,4 milhões de habitantes, iniciando posteriormente um declínio para 199,2 milhões em 2070. Consequentemente, essas alterações têm impactado significativamente o setor de seguros, que registrou um crescimento expressivo de 12% em 2024, com receita acumulada de R$ 435,56 bilhões.

O envelhecimento populacional e as mudanças na estrutura demográfica brasileira estão redefinindo as necessidades de proteção financeira e securitária. Além disso, a digitalização e o uso de Inteligência Artificial têm permitido ao mercado segurador desenvolver produtos mais personalizados e acessíveis, adaptando-se às novas demandas dessa população em transformação.

O Envelhecimento Populacional e seu Impacto nos Seguros

O fenômeno do envelhecimento populacional brasileiro vem se acelerando nas últimas décadas. Se na década de 1940 a expectativa de vida média era de apenas 45,5 anos, em 2022 este número saltou para 75,5 anos. Conforme dados do IBGE, a proporção de pessoas com mais de 60 anos aumentou de 8,7% em 2000 para 15,6% em 2023, e as projeções indicam que, até 2070, aproximadamente 37,8% dos brasileiros estarão nessa faixa etária.

Essas mudanças demográficas estão remodelando profundamente o setor de seguros. No âmbito da saúde suplementar, os gastos assistenciais aumentam significativamente com o avançar da idade, principalmente nas últimas décadas de vida. Isso ocorre devido ao padrão de morbidade dos idosos, com maior prevalência de doenças crônicas degenerativas, resultando em maior consumo de serviços médicos e taxas de internação hospitalar mais elevadas.

O mercado já responde a essa nova realidade. A Mapfre, por exemplo, lançou recentemente o seguro Empresarial Sênior ILPI, desenvolvido especificamente para instituições de longa permanência para idosos. Outras seguradoras estão criando produtos voltados para doenças graves e cobertura de condições crônicas, como diabetes, hipertensão e câncer.

Entretanto, desafios persistem. O aumento da proporção de idosos nas carteiras dos planos de saúde pode inviabilizar as transferências intergeracionais e a atual estrutura de precificação. Além disso, no segmento de vida, o custo para pessoas idosas é consideravelmente maior, com limitações para capital segurado e aceitação restrita devido a doenças pré-existentes.

Internacionalmente, países como Japão, Alemanha e Coreia do Sul implementaram seguros de cuidados de longo prazo para idosos. No Japão, desde 2000, existe um sistema onde todos pagam a partir dos 40 anos e, ao completar 65 anos, ganham direito a diversos serviços que garantem uma velhice digna, desde ajuda doméstica até vagas em instituições de longa permanência.

O Brasil envelheceu e possui atualmente cerca de 35 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Contudo, segundo uma pesquisa, 52,9% das seguradoras não vendem produtos destinados aos mais velhos, e 70,6% não oferecem serviços específicos para este público, evidenciando um potencial de mercado ainda pouco explorado.

Mudanças na Estrutura Familiar e as Novas Demandas de Seguro

A estrutura familiar brasileira passou por transformações significativas nas últimas décadas, criando novas demandas no mercado de seguros. O tamanho médio das famílias reduziu consideravelmente, passando de 4,3 para 3,1 pessoas entre 1981 e 2006, enquanto o número total de famílias mais que duplicou nesse período, saltando de 27,4 milhões para 58,2 milhões.

Essas mudanças demográficas refletem-se na diversificação dos arranjos familiares. O modelo tradicional composto por casal com filhos, embora ainda predominante, deixou de representar mais da metade das famílias. Simultaneamente, observa-se um aumento significativo de famílias monoparentais femininas, que passaram de 9% para 15,3% entre 1980 e 2010, e masculinas, que cresceram de 0,8% para 2,2%. Além disso, houve expansão dos arranjos unipessoais e de casais sem filhos.

No entanto, o mercado segurador ainda está se adaptando a essa nova realidade. Um seguro familiar moderno oferece proteção abrangente que se estende para além do segurado titular, atendendo outros membros e dependentes. Esse tipo de cobertura é especialmente importante quando há mais de um provedor na família, garantindo suporte financeiro em situações inesperadas como falecimento, diagnóstico de doença grave ou perda de renda por acidente.

Entre os principais benefícios desses seguros estão a proteção financeira familiar e o planejamento sucessório. A apólice torna-se uma ferramenta essencial para cumprir os desejos do titular em caso de falecimento, auxiliando em dívidas ou dividindo o patrimônio conforme preferência. Ademais, oferece uma forma simplificada de distribuição patrimonial, sem necessidade de inventário ou tributação no imposto de renda.

Os seguros familiares costumam incluir coberturas como assistência funerária, proteção contra acidentes pessoais e coberturas extensivas para cônjuges e filhos. Dessa forma, seguradoras como BB Seguros têm desenvolvido produtos que ajudam a garantir que imprevistos com saúde ou rotina não abalem o planejamento financeiro familiar.

Apesar dos avanços, pesquisas indicam que ainda há espaço para crescimento nesse segmento. As seguradoras precisam continuar adaptando seus produtos para atender às necessidades específicas das famílias contemporâneas, considerando suas novas configurações e desafios financeiros.

Urbanização e Transformações nos Seguros Patrimoniais

O processo de urbanização brasileiro transformou drasticamente o perfil demográfico nacional. Atualmente, cerca de 84,3% da população vive em áreas urbanas, um salto expressivo quando comparado aos períodos anteriores na história do país. Essa concentração populacional nos grandes centros urbanos trouxe consigo novos desafios e oportunidades para o mercado de seguros patrimoniais.

A dispersão urbana acelerada, observada em diversas cidades brasileiras, frequentemente ocorre de forma desordenada e sem planejamento adequado. Esse modelo de crescimento pode intensificar desigualdades sociais e resultar em segregação socioespacial, afetando diretamente o perfil de risco das diferentes regiões de uma cidade e, consequentemente, a precificação dos seguros patrimoniais.

No contexto das mudanças climáticas, os centros urbanos tornaram-se particularmente vulneráveis a eventos extremos como inundações, deslizamentos e ondas de calor. Segundo dados da Confederação Nacional de Municípios, até janeiro de 2023, 1.942 municípios brasileiros estavam listados como suscetíveis a riscos, com 8,9 milhões de pessoas morando nessas áreas. 

Em resposta a essa realidade, o mercado de seguros tem criado produtos específicos. A Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) assinou um termo de cooperação com a ICLEI para desenvolver o projeto "Mecanismo de Seguro para Infraestruturas Urbanas", que será implementado inicialmente em Belo Horizonte, Recife e Salvador. Esse programa visa facilitar a reconstrução de infraestruturas críticas após eventos climáticos extremos e oferecer assistência financeira às famílias afetadas.

Além disso, a mudança nos padrões de mobilidade urbana está impactando o seguro automotivo. As recentes mudanças no estilo de vida dos consumidores alimentaram a economia compartilhada, com novas opções de mobilidade urbana crescendo duas vezes mais que os métodos convencionais de transporte público. Isso tem levado ao surgimento do "seguro integrado", quando uma organização não seguradora oferece cobertura no ponto de venda como parte de uma assinatura ou pacote.

Apesar do avanço, a cobertura nacional residencial ainda é limitada, com apenas 17% das casas seguradas, aproximadamente 12,7 milhões de moradias. Entre as apólices contratadas, somente 10% incluem cobertura contra desmoronamento, enquanto menos de 1% cobrem alagamentos, evidenciando um descompasso entre os riscos urbanos crescentes e a proteção efetivamente contratada pela população.

Conclusão

Mudanças demográficas significativas têm remodelado o setor de seguros brasileiro nas últimas décadas. O envelhecimento populacional, aliado às transformações na estrutura familiar e ao processo acelerado de urbanização, criou novos desafios e oportunidades para o mercado segurador.

Certamente, o setor demonstra capacidade de adaptação através de produtos específicos para idosos, seguros familiares modernos e coberturas patrimoniais adaptadas à realidade urbana. Entretanto, lacunas importantes ainda persistem, especialmente considerando que apenas 17% das residências brasileiras possuem seguro e mais da metade das seguradoras não oferece produtos destinados à população idosa.

As projeções demográficas para as próximas décadas indicam que essas tendências devem se intensificar. Portanto, o mercado segurador precisará continuar sua evolução, desenvolvendo produtos mais acessíveis e personalizados que atendam às necessidades específicas de uma população em constante transformação.

O futuro do setor dependerá da capacidade das seguradoras em compreender e responder às mudanças demográficas, oferecendo soluções inovadoras que garantam proteção adequada para todos os segmentos da sociedade brasileira.

Referências

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[3] - https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/projeto-vai-criar-seguro-para-cidades-brasileiras-em-desastres-climaticos/
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