Como Empresas Brasileiras estão Lucrando com ESG
São Paulo, 28 de julho de 2025
O mercado de seguros sustentáveis está transformando radicalmente o setor financeiro brasileiro. A Allianz Trade demonstra essa mudança ao planejar a descarbonização total de seu portfólio até 2050, além de já ter emitido uma apólice pioneira para o primeiro parque eólico offshore da França, que fornecerá energia limpa para mais de 400 mil residências.
No entanto, essa transformação vai além das políticas ambientais. O setor está desenvolvendo inovações significativas, como seguros para créditos de carbono e produtos específicos para a transição climática. Além disso, as seguradoras estão utilizando big data e inteligência artificial para analisar riscos ambientais de forma mais precisa, criando uma nova perspectiva para a sustentabilidade financeira do setor.
Este artigo explora como as empresas brasileiras estão lucrando com a integração de práticas ESG em seus modelos de negócios, apresentando casos concretos e estratégias que estão redefinindo o futuro do mercado securitário nacional.
O Cenário Atual dos Seguros ESG no Brasil
A Superintendência de Seguros Privados (Susep) estabeleceu um marco significativo para o setor de seguros brasileiro com a publicação da Circular 666 em junho de 2022. Esta normativa determina que as seguradoras implementem políticas de sustentabilidade e gestão de riscos ambientais, climáticos, sociais e de governança.
Como resultado dessa regulamentação, as empresas do setor precisam desenvolver estruturas específicas para gerenciar riscos ESG e apresentar relatórios anuais de sustentabilidade. Além disso, a norma exige que as seguradoras realizem estudos de materialidade para avaliar os impactos climáticos e sociais mais relevantes em suas operações.
Em novembro de 2024, a Susep avançou ainda mais ao publicar a Resolução CNSP nº 473/2024, que estabelece critérios para classificação de planos de seguros e previdência complementar como sustentáveis. Esta resolução proíbe o uso de termos como "ESG", "verde" ou "sustentável" sem comprovação efetiva dos benefícios climáticos, ambientais ou sociais.
O setor de seguros brasileiro possui uma posição estratégica significativa no mercado financeiro, com ativos equivalentes a 25% da dívida pública nacional. Esta capacidade financeira torna as seguradoras agentes fundamentais para viabilizar investimentos sustentáveis no país.
A Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) tem papel crucial nesse cenário, sendo uma instituição fundadora dos Princípios para Sustentabilidade em Seguros, estabelecidos pela Iniciativa Financeira das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2012. Atualmente, a CNseg lidera discussões setoriais, compartilha melhores práticas e contribui para a formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável.
O mercado segurador brasileiro está se adaptando rapidamente a essas mudanças. As empresas já consideram critérios ESG como decisivos na hora de fechar negócios, principalmente em setores sensíveis como carvão térmico, areias petrolíferas e indústrias de petróleo e gás. Esta transformação demonstra um compromisso crescente do setor com práticas mais sustentáveis e responsáveis.
Casos de Sucesso em Seguros Sustentáveis
As principais seguradoras brasileiras estão apresentando resultados significativos na implementação de práticas ESG. A análise de critérios ambientais, sociais e de governança corporativa determina atualmente as operações das seguradoras, que podem inclusive negar apólices para empresas que não cumpram os preceitos de sustentabilidade.
A Porto Seguro, por exemplo, expandiu seu serviço de Descarte Sustentável para o portfólio de seguros de automóveis em 2024. Esta iniciativa, anteriormente disponível apenas no Seguro Residencial, permite que segurados descartem móveis e eletrodomésticos de maneira ambientalmente responsável. Ademais, a empresa passou a integrar o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3, consolidando seu compromisso com práticas ESG.
A SulAmérica destaca-se pela inovação digital sustentável. A empresa registrou que 9 em cada 10 beneficiários aprovaram seu serviço de telemedicina através do aplicativo 'Saúde na Tela'. Com esta iniciativa, aproximadamente 2 toneladas de CO2 deixaram de ser emitidas na atmosfera.
O Grupo Bradesco Seguros também apresenta avanços notáveis, tendo mapeado mais de 100 negócios sustentáveis em sua operação. Seu programa "Sinistro Sustentável" nos ramos de automóvel e residencial realizou 2.255 atendimentos e coletou mais de 132 toneladas de resíduos em 2022.
Um dado expressivo do setor mostra que 55% das seguradoras já aplicam questões ESG para decidir quais empresas receberão cobertura. Este percentual representa um aumento significativo comparado a uma década atrás, quando apenas 19% consideravam essas diretrizes na subscrição.
Os executivos brasileiros do setor acreditam que as seguradoras podem apoiar a transição sustentável através de gestão de riscos (74%), avaliação de riscos (71%) e formação de parcerias (61%). Além disso, mais de 70% das companhias já possuem planos para zerar suas emissões, demonstrando um compromisso crescente com a agenda ambiental.
Impacto Financeiro das Práticas ESG
Os dados financeiros comprovam que a adoção de práticas ESG no setor de seguros gera resultados expressivos. Empresas com alto desempenho em ESG entregaram um retorno total ao acionista 2,6 vezes superior ao das empresas com desempenho médio entre 2013 e 2020.
Ademais, um estudo abrangente revelou que o ESG está correlacionado positivamente com o desempenho financeiro corporativo em 62,6% dos casos analisados. Este impacto positivo manifesta-se através de diversos benefícios tangíveis para as seguradoras:
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Redução de custos operacionais através de:
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Economia de energia e materiais
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Aumento de produtividade
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Maior longevidade dos ativos
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Cadeia de suprimentos mais resiliente
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No cenário brasileiro, as seguradoras demonstram preocupação significativa com questões sociais e ambientais. A capacidade de educar a população e reduzir lacunas de seguros foi classificada como segunda maior prioridade do setor. Paralelamente, as mudanças climáticas têm impactado diretamente os resultados financeiros: em 2022, aproximadamente 45% dos US$ 275 bilhões em perdas econômicas globais decorrentes de desastres naturais foram cobertos por seguros.
O setor segurador brasileiro possui posição estratégica no mercado financeiro, sendo um dos maiores investidores institucionais do país, com ativos equivalentes a 25% da dívida pública brasileira. Esta capacidade financeira substancial permite que as seguradoras direcionem recursos significativos para investimentos sustentáveis.
Um aspecto notável é a mudança na percepção dos consumidores: 37% estão dispostos a pagar valores mais altos por produtos ecológicos e sustentáveis. Consequentemente, três quartos dos motoristas considerariam mudar para uma seguradora que demonstrasse compromisso ambiental.
As organizações que implementaram práticas de sustentabilidade e KPIs adequados registraram melhorias na fidelidade do cliente e inovação de produtos. Além disso, as seguradoras que incorporam componentes ecológicos em suas operações podem economizar aproximadamente US$ 35 por sinistro, além de reduzir 30 kg nas emissões de CO2.
Conclusão
Seguradoras brasileiras demonstram que práticas ESG não representam apenas compromisso ambiental, mas também geram resultados financeiros expressivos. Dados comprovam que empresas com alto desempenho em sustentabilidade alcançaram retornos 2,6 vezes superiores aos de suas concorrentes tradicionais.
Portanto, o marco regulatório estabelecido pela Susep, somado aos casos bem-sucedidos de empresas como Porto Seguro, SulAmérica e Bradesco Seguros, estabelece um novo padrão para o mercado securitário nacional. Além disso, a disposição dos consumidores em pagar mais por produtos sustentáveis reforça a viabilidade econômica dessa transformação.
Certamente, o setor segurador brasileiro caminha para um futuro onde sustentabilidade e lucratividade andam juntas. Esta mudança beneficia não apenas as empresas e seus acionistas, mas também contribui para uma economia mais resiliente e ambientalmente responsável.
Referências
[1] - https://www.gov.br/susep/pt-br/central-de-conteudos/noticias/2024/novembro/publicada-nova-norma-sobre-seguros-e-previdencia-sustentaveis
[2] - https://brozautoseguros.com.br/a-agenda-esg-no-setor-de-seguros-no-brasil/
[3] - https://www.fenacor.org.br/noticias/veja-as-novas-regras-para-seguros-sustentavei
[4] - https://cnseg.org.br/conteudos/esg
[5] - https://www.sonhoseguro.com.br/2024/06/como-a-sustentabilidade-e-o-esg-estao-pautando-o-futuro-do-mercado-de-seguros/
[6] - https://www.sindsegsp.org.br/site/noticia-texto.aspx?id=35941
[7] - https://submissao.singep.org.br/11singep/arquivos/48.pdf
[8] - https://blogdocorretor.com/sulamerica-aposta-em-inovacao-e-cultura-phygital-no-mercado-de-seguros/
[9] - https://cqcs.com.br/noticia/conheca-os-avancos-em-praticas-esg-no-setor-de-seguros/
[10] - https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/seguros/noticia/2023/10/31/cresce-numero-de-seguradoras-que-consideram-esg-para-selecionar-clientes.ghtml
[11] - https://www.accenture.com/content/dam/accenture/final/a-com-migration/manual/r3/pdf/pdf-180/Accenture-ESG-Industria-De-Seguros-Final.pdf
[12] - https://diplomatique.org.br/o-esg-gera-retorno-financeiro-mas-voces-nao-estao-preparados-para-essa-conversa/
[13] - https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/qual-e-a-influencia-da-pratica-esg-na-liberacao-de-seguros/
[14] - https://g1.globo.com/pr/parana/especial-publicitario/sancor-seguros/sancor-seguros/noticia/2024/09/04/sustentabilidade-seguradora-oferece-compensacao-de-carbono-para-clientes-de-seguro-para-automoveis.ghtml
[15] - https://www.insurtalks.com.br/posts/o-mercado-segurador-participa-da-economia-circular-e-transforma-a-sustentabilidade-com-novas-apolices-e-incentivos-verdes