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O Verdadeiro Impacto das Mudanças Climáticas no Seu Seguro em 2025

São Paulo, 31 de março de 2025

As mudanças climáticas e o mercado de seguros enfrentam uma realidade alarmante: apenas na primeira metade de 2023, desastres naturais causaram perdas de US$ 120 bilhões globalmente, sendo 68% relacionadas a eventos climáticos extremos.


No Brasil, a situação é ainda mais preocupante. Apenas 15% dos imóveis têm seguro, enquanto as catástrofes naturais deixam um rastro de prejuízos cada vez maior. Um exemplo claro foi a tragédia no Rio Grande do Sul, que gerou perdas totais estimadas em R$ 100 bilhões, mas apenas R$ 6 bilhões estavam segurados.


Com uma lacuna de proteção de 93% no país em relação às perdas causadas por desastres naturais, torna-se fundamental entender como as mudanças climáticas afetarão o mercado segurador em 2025 e quais medidas podem ser tomadas para proteger o patrimônio da população brasileira.

A nova realidade das seguradoras frente às mudanças climáticas

O cenário para as seguradoras está mudando drasticamente frente aos desafios impostos pelas alterações do clima. A frequência e a severidade com que eventos extremos ocorrem acenderam um alerta vermelho no setor, obrigando companhias a adequarem suas coberturas e modelagens de classificação de risco à nova realidade1.


Os números são impressionantes: desastres naturais causaram perdas de R$ 695,88 bilhões apenas na primeira metade do ano, com 68% decorrentes de eventos climáticos extremos como tempestades, inundações e incêndios florestais 1. As perdas seguradas nesse período alcançaram R$ 359,54 bilhões, bem acima da média de R$ 214,56 bilhões dos últimos dez anos  1.


Na América Latina, a situação não é diferente. Segundo o Swiss Re Institute, 27 catástrofes resultaram em R$ 29 bilhões em perdas seguradas e quase R$ 92,78 bilhões em perdas econômicas em 20231. Isso evidencia que a maior parte das perdas globais seguradas (76%) está relacionada a eventos climáticos extremos  1.


Consequentemente, o desafio para as seguradoras tornou-se identificar esses novos eventos, pois são riscos diferentes dos fenômenos históricos tradicionalmente avaliados pela indústria1. Eventos como ciclones e secas no Brasil, além da chuva torrencial no Rio Grande do Sul, impõem mudanças na avaliação de riscos  1.


Além disso, o setor enfrenta pressões regulatórias e sociais para adotar práticas mais responsáveis em relação ao clima1. A Superintendência de Seguros Privados (Susep) demonstra compromisso com o tema através da Norma de Sustentabilidade e Riscos ESG1.
Nesse contexto, há uma tendência de mudança do modelo "histórico" para modelos preditivos, que usam projeções de impacto com cálculos mais complexos para prever eventos 2. Empresas como a Guy Carpenter já lançaram ferramentas de modelagem preditiva de risco climático extremo no Brasil 1.

Por fim, embora algumas regiões no mundo já vivam restrições na oferta de seguros devido aos eventos climáticos severos, como na Flórida e na Califórnia, no Brasil isso ainda não acontece 1. O cenário no país, apesar de positivo, inspira atenção devido à infraestrutura frágil das cidades para lidar com eventos extremos 1

Inovações tecnológicas que transformarão o setor de seguros

A tecnologia está emergindo como peça fundamental na adaptação do setor de seguros aos desafios climáticos. Com riscos cada vez mais complexos e imprevisíveis, as seguradoras brasileiras intensificam investimentos em inovações que prometem revolucionar a forma como avaliam, precificam e gerenciam apólices relacionadas a eventos climáticos extremos.


A Inteligência Artificial (IA) destaca-se como uma das principais forças transformadoras do setor. Segundo o presidente da Confederação Nacional das Seguradoras, o impacto das IAs será "brutal" na economia, com efeitos ainda pouco previsíveis para a indústria de seguros3. Os algoritmos de aprendizado de máquina já estão sendo utilizados para prever a probabilidade de eventos de risco, como acidentes ou desastres naturais, com base em dados históricos 4.


Outra inovação relevante é o seguro paramétrico, uma modalidade que não exige dano físico na propriedade para acionar o pagamento, mas sim a ocorrência de parâmetros climáticos predefinidos. O modelo desenvolvido pelo INMET, por exemplo, oferece cobertura baseada em índices como quantidade de chuva, velocidade do vento, ocorrência de geada ou inundação5. Esta solução está ganhando relevância global, com mais de 15 transações paramétricas fechadas pela Marsh América Latina apenas em 2018 6.
A análise de imagens por satélite também está transformando o setor. A tecnologia permite monitoramento quase em tempo real de áreas geograficamente dispersas, simplificando a avaliação de riscos e automatizando a validação de sinistros 7. Sistemas como o SAR (Radar de Abertura Sintética) oferecem dados precisos sobre danos estruturais independentemente do clima ou luz, permitindo que as seguradoras tenham uma visão clara dos prejuízos em poucas horas após o impacto 8.


A tecnologia blockchain representa outra fronteira promissora, especialmente através dos contratos inteligentes. Estes contratos autoexecutáveis eliminam a intervenção manual, reduzindo custos administrativos e acelerando o processamento de sinistros9. A tecnologia proporciona um registro imutável de transações, diminuindo significativamente a possibilidade de fraudes, que chegaram a crescer 211% durante a pandemia apenas no Rio de Janeiro 10.


Adicionalmente, o uso de drones para avaliação de danos em áreas afetadas por catástrofes tem se mostrado uma solução eficaz. Equipados com sensores multiespectrais e câmeras de alta resolução, esses dispositivos conseguem acessar áreas específicas com precisão milimétrica, complementando o alcance global dos satélites 11.


Essas tecnologias não apenas melhoram a eficiência operacional das seguradoras, mas também permitem o desenvolvimento de produtos mais personalizados e ágeis, fundamentais para enfrentar os crescentes desafios impostos pelas mudanças climáticas ao setor de seguros.

O desafio dos refugiados climáticos para o mercado segurador

Um fenômeno crescente impacta diretamente o setor de seguros: os refugiados climáticos, pessoas forçadas a abandonar seus lares devido a catástrofes ambientais. O Brasil responde por mais de um terço dos deslocamentos internos por desastres nas Américas, com 745 mil pessoas afetadas 12. Esse cenário impõe novos desafios para as seguradoras que precisam adaptar seus modelos de negócio.


Uma enquete realizada com refugiados venezuelanos no Brasil revela que 50% dos participantes consideram que as mudanças climáticas já afetam gravemente aspectos essenciais de suas vidas, como saúde, alimentação e condições de trabalho 13. Além disso, 38% das 123 pessoas participantes já cogitaram se mudar novamente devido a essas condições adversas 13.


O maior problema enfrentado pelo mercado segurador é que as faixas da população mais atingidas por enchentes ou secas são justamente as que menos contratam seguro, devido à menor renda disponível 14. Para enfrentar esse desafio, a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) propôs um seguro obrigatório com preços entre R$11,60 e R$29,00 mensais, que poderia ser pago via desconto na conta de energia elétrica 14.


A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) lançou recentemente o Fundo de Resiliência Climática, buscando impulsionar a proteção de pessoas refugiadas e comunidades deslocadas. O objetivo é arrecadar US$100 milhões até o final de 2025 15.
No âmbito legislativo, o Projeto de Lei 1594/24 institui a Política Nacional dos Deslocados Ambientais e Climáticos (PNDAC), estabelecendo direitos à resposta humanitária, saúde, educação, trabalho, assistência social, moradia e justiça16. A proposta prevê prioridade de atendimento no SUS, agilidade em matrículas escolares e até proibição de demissão por dois anos de trabalhadores residentes em áreas atingidas 16.


As seguradoras podem ser fundamentais em um processo colaborativo de construção de resiliência, aumentando a conscientização sobre os riscos e contribuindo com sua experiência em gerenciamento de riscos 17. Soluções inovadoras em colaboração com o setor público poderão capacitar as comunidades mais vulneráveis ao clima a aumentar seus níveis de resiliência financeira e física 17.

Conclusão

Mudanças climáticas representam uma realidade inegável para o setor de seguros brasileiro. Números alarmantes de prejuízos, somados à baixa penetração do mercado segurador, evidenciam a necessidade urgente de adaptação do setor.


Certamente, as inovações tecnológicas, como inteligência artificial, seguros paramétricos e análise por satélite, oferecem soluções promissoras para enfrentar esses desafios. Portanto, seguradoras precisam acelerar sua transformação digital e desenvolver produtos mais acessíveis para proteger a população vulnerável.


A questão dos refugiados climáticos adiciona complexidade ao cenário, exigindo novas abordagens e modelos de negócio. Soluções como microsseguros e parcerias público-privadas podem ampliar significativamente a proteção financeira das comunidades mais expostas aos riscos climáticos.


O futuro do setor dependerá da capacidade das seguradoras se adaptarem rapidamente às mudanças climáticas, aproveitando tecnologias emergentes e desenvolvendo produtos mais inclusivos. Apenas assim o mercado conseguirá reduzir a atual lacuna de proteção de 93% e garantir maior resiliência financeira para a população brasileira.

Referências

[1] - https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/seguros/noticia/2024/10/28/a-conta-do-clima-chegou-e-impacta-o-mercado-de-seguros.ghtml
[2] - https://cqcs.com.br/noticia/efeitos-das-mudancas-climaticas-exigem-adaptacao-do-mercado-de-seguros/
[3] - https://valor.globo.com/financas/noticia/2023/09/26/inteligencia-artificial-sera-disruptiva-para-setor-de-seguros-avalia-presidente-da-cnseg.ghtml
[4] - https://www.terra.com.br/economia/uso-de-inteligencia-artificial-por-seguradoras-torna-o-segmento-ainda-mais-eficiente,e9868cc67a51455c38f8b1307875b54bkgqna0lo.html
[5] - https://portal.inmet.gov.br/noticias/seguro-desenvolvido-pelo-inmet-reduz-impactos-causados-por-eventos-clim%C3%A1ticos
[6] - https://www.marsh.com/br/risks/weather-natural-catastrophes/insights/parametric-insurance-a-great-ally-in-catastrophic-events.html
[7] - https://eos.com/pt/blog/analise-de-imagens-de-satelite-para-seguradoras/
[8] - https://blog.img.com.br/arcgis/monitoramento-de-queimadas-por-satelite-e-inteligencia-artificial-inovacoes-na-resposta-a-desastres-e-gestao-de-seguros/
[9] - https://www.insurtech.com.br/seguros/como-a-blockchain-pode-afetar-o-setor-de-seguros-com-liquidacoes-mais-rapidas-e-precisas/
[10] - https://www.insurtalks.com.br/posts/tecnologias-disruptivas-podem-oferecer-solucoes-no-enfrentamento-da-fraude-em-seguros
[11] - https://www.mapfreglobalrisks.com/pt-br/gerencia-riscos-seguros/estudos/drones-satelites-avaliacao-danos-areas-afetadas/
[12] - https://www.jota.info/artigos/deslocados-climaticos-e-direitos-humanos
[13] - https://www.acnur.org/br/noticias/notas-informativas/enquete-destaca-o-impacto-das-mudancas-climaticas-na-vida-de-refugiados
[14] - https://estadaori.estadao.com.br/2024/01/05/risco-climatico-impoe-desafios-as-seguradoras/
[15] - https://www.acnur.org/br/noticias/comunicados-imprensa/acnur-lanca-fundo-para-proteger-refugiados-e-outras-pessoas
[16] - https://www.camara.leg.br/noticias/1086915-projeto-institui-politica-de-protecao-a-deslocados-climaticos/
[17] - https://portal.fgv.br/noticias/pesquisadora-analisa-atuacao-seguros-aplicados-catastrofes-climaticas-dias-atuais

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